UNIVERSIDADES FANTASMAS: paradigmas de uma aprendizagem 4.0
Não é de hoje que boa parte dos estudiosos da educação e gestores de instituições de ensino tem se debruçado nos diálogos da falta de sintonia das universidades com o mercado e a sociedade, principalmente em países emergentes.
Depois de algumas experiências como professor e estudante em universidades de países Europeus, Norte Americanos e Latino Americanos, tenho a clareza de que boa parte das universidades não só desaparecerão, mas serão universidades fantasmas antes de desaparecerem.
Muitas são as variáveis levantadas por especialistas para diagnosticar tal acontecimento, mas mantem-se os discursos tradicionais pautados no aumento da concorrência, nos baixos preços aplicados pelos mercado, na virtualização em detrimento da presencialidade, na mobilidade estudantil, nos avanços da tecnologia da informação e comunicação, na escassez de recursos governamentais, má gestão e tantos outras variáveis que são infinitamente infinitas, quando se inicia uma conversa sobre o tema.
Em uma analogia, para não tornar o texto tão longo, entendo que acontecerá com as universidades o mesmo fenômeno que aconteceu com os shopping centers; e, que está se espraiando para o segmento de varejo com lojas físicas. E neste sentido, se você quiser um maior aprofundamento neste tema clique neste link, onde Dan Bell, filmmaker Norte Americano, explica um pouco deste acontecimento no TEDxMidAtlantic, em 2016, com o título “Inside America´s dead shopping malls”.
Então, a solução seria a virtualização? Me parece que esta pode ser uma saída; e, que sem exceção (ou com algumas para não tornar-me exageradamente generalista) é o que grande parte das universidades estão fazendo. Transformando seus cursos presenciais em virtuais, suas disciplinas presenciais em disciplinas virtuais. O B-learning Vírus.
A questão posta para este b-learning (mesmo para pessoas menos estudiosas do tema, como Eu) é que o modelo b-learning não se manifesta apenas com a substituição de disciplinas ou cursos, do espaço físico para o espaço virtual, mas a composição de atividades formativas em ambientes de aprendizagem físicos e virtuais, potencializando não apenas a diminuição de custos, a redução de espaço físico, ou o ganho de escala de mercado, mas principalmente, a aprendizagem 4.0 (que chamei no título do texto), outro tema que dá um bom diálogo; e, que trarei o que eu compreendo sobre, em parágrafos abaixo.
Um detalhe interessante a ser percebido quando se fala de virtualização ou mesmo o modelo de educação à distância é que hoje qualquer pessoa pode fazer uma formação on line em qualquer das melhores universidades do mundo; e; no final, escolhe se deseja ou não ter o certificado.
Estive no inicio de 2017 em na região de Boston, para um curso para Professores de Empreendedorismo na Basbson College, presencial com partes do curso online (pré-curso);e, tive a oportunidade de visitar a Harvard University e o MIT. Encantado com o ambiente presencial, a atmosfera, os relacionamentos que fiz; e, o clima da cidade, quando voltei ao Brasil decidi que faria um curso de alguma das duas instituições que não tive tempo; e, nem recursos para realizar uma formação, quando estive por lá.
Então, encontrei a plataforma Edx.org, uma plataforma online criada para potencializar os conhecimentos de alguns professores e temas que possam ser acessados por qualquer pessoa do mundo. Faço um curso de Empreendedorismo para Economias Emergentes, e ao final terei um certificado de Harvard, para aquela modalidade.
Os entusiastas do ensino virtual diriam: o online aproxima, possibilita o acesso; mas o que o on line me gerou foi o desejo de estar presencialmente, pois a geração de valor proposta pelo totalmente on line, me fez desejar estar na atmosfera totalmente presencial.
Perceba que as principais universidades do mundo, enquadradas como as mais inovadoras, e por vezes, as mais clássicas estão com seus campus universitários abarrotados de estudantes vindo de todos os cantos do mundo.
Na visita ao MIT tive a sensação de tropeçar em chineses, coreanos, indianos, brasileiros, norte americanos; pessoas de diferentes nacionalidades atuando de forma interdisciplinar, com diferentes culturas, contextos e olhando para o mundo 4.0, 5.0, etc. A atmosfera faz toda a diferença. Seus principais cursos não estão online. Me parece que o online é uma amostra grátis do que você pode acessar quando estiver presencialmente. Uma forma de encantamento, de captura, ou invés de manutenção e/ou sustentabilidade.
Quando retornei ao Brasil tive a certeza que a falta de investimento e gestão na educação em todos os níveis faz com que as universidades sejam vistas com um mal necessário, pois boa parte estão desconectadas do mundo; e, aqui cabe começar a falar da aprendizagem 4.0.
Boa parte do que ensinamos até agora tende a não servir para um futuro muito próximo. Boa parte dos cursos de graduação que possuímos hoje levando o individuo a uma profissão, possivelmente não será colocado em prática pelos estudantes, pois sua profissão pode não existir. Se pegarmos os estudos do Futuro do Trabalho do Fórum Econômico Mundial veremos que as habilidades requeridas para os próximos 10 anos, são habilidade comportamentais, de liderança, com características transformadoras e não técnicas. Tudo aquilo que segue um padrão e uma recorrência será robotizado.
E, as universidades continuam replicando modelos que serão robotizados. A aprendizagem 4.0 é um movimento de vai-e-vem dos ambientes presenciais e virtuais, com muitas formações e poucas graduações, com nano aprendizagens, que podem ser encontradas a qualquer tempo, em qualquer lugar.
Imagine uma educação aos moldes do Pokemon Go, onde aparece para o estudante formações e ambientes de aprendizagem em seu mapa geolocalizado; e, que durante tanto tempo aquela formação, conteúdo, conexão, networking está a sua disposição e você pode capturá-la para a sua Digital Learning Wallet, como acontece hoje com os cartões de embarque de companhias aéreas; e, quando você for para um cliente, um projeto ou mesmo um emprego em alguma empresa, você apresenta a sua carteira de aprendizagem; e, não mais um diploma e um currículo, que por vezes os modelos impossibilitam com que você possa incluir suas formações, expertises e atuações “diferentes” das tradicionais.
É isto que estamos vendo mundialmente, universidades como a Singularity University, 42, Stanford, MIT, Harvard e tantas outras que adotam modelos presenciais, virtuais, gerando valor social e econômico mundialmente, possibilitando o acesso ao conhecimento, o uso das tecnologias digitais, a integração com a indústria, negócios e ecossistemas, a mobilidade global e desenvolvimento de startups e contextos sociais e de mercados, geração desenvolvimento territorial, novas formas de receitas, fundos, incrementos de recursos e doações por aqueles que reconhecem o papel da universidade na sua formação, carreira e desenvolvimento dos seus negócios.
Universidades em países emergentes podem se tornar lugares vazios, pois vendem aquilo que todas vedem; e, pior; ou melhor, concorrem com qualquer universidade virtual (ou não) do mundo.
Universidade 1.0 para mercados e sociedades 4.0. Há uma necessidade de um alinhamento.